Acupuntura na Quimioterapia – Parte 1

Boa Tarde Leitores!

Hoje nosso assunto é a Acupuntura nos efeitos da Quimioterapia e a evolução de seus efeitos colaterais em relação aos 5 Elementos.

Antes de iniciarmos nossos estudos em Medicina Tradicional Chinesa, precisamos entender um pouco do que é a Quimioterapia na visão da Medicina Ocidental.

A quimioterapia é o método que utiliza compostos químicos, chamados quimioterápicos, no tratamento de doenças causadas por agentes biológicos. Quando aplicada ao câncer, a quimioterapia é chamada de quimioterapia antineoplásica ou quimioterapia antiblástica.
Os agentes utilizados no tratamento do câncer afetam tanto as células normais como as neoplásicas (de câncer), porém eles acarretam maior dano às células malignas do que às dos tecidos normais.

Tipos e finalidades da quimioterapia
A quimioterapia pode ser utilizada em combinação com a cirurgia e a radioterapia. De acordo com as suas finalidades, a quimioterapia é classificada em:

  • Curativa – quando é usada com o objetivo de se conseguir o controle completo do tumor, como nos casos de doença de Hodgkin, leucemias agudas, carcinomas de testículo, coriocarcinoma gestacional e outros tumores.
  • Adjuvante – quando se segue à cirurgia curativa, tendo o objetivo de esterilizar células residuais locais ou circulantes, diminuindo a incidência de metástases à distância. Exemplo: quimioterapia adjuvante aplicada em caso de câncer de mama operado em estádio II.
  • Neoadjuvante ou prévia – quando indicada para se obter a redução parcial do tumor, visando a permitir uma complementação terapêutica com a cirurgia e/ou radioterapia. Exemplo: quimioterapia pré-operatória aplicada em caso de sarcomas de partes moles e ósseos.
  • Paliativa – não tem finalidade curativa. Usada com a finalidade de melhorar a qualidade da sobrevida do paciente. É o caso da quimioterapia indicada para carcinoma indiferenciado de células pequenas do pulmão.

Toxicidade dos quimioterápicos
Os quimioterápicos não atuam exclusivamente sobre as células tumorais. As estruturas normais que se renovam constantemente, como a medula óssea, os pêlos e a mucosa do tubo digestivo, são também atingidas pela ação dos quimioterápicos. No entanto, como as células normais apresentam um tempo de recuperação previsível, ao contrário das células tumorais, é possível que a quimioterapia seja aplicada repetidamente, desde que observado o intervalo de tempo necessário para a recuperação da medula óssea e da mucosa do tubo digestivo. Por este motivo, a quimioterapia é aplicada em ciclos periódicos.

Os efeitos terapêuticos e tóxicos dos quimioterápicos dependem do tempo de exposição e da concentração plasmática da droga. A toxicidade é variável para os diversos tecidos e depende da droga utilizada. Nem todos os quimioterápicos ocasionam efeitos indesejáveis tais como mielode-pressão (diminuição da produção de glóbulos brancos e vermelhos), alopecia (queda de cabelos) e alterações gastrintestinais (náuseas, vômitos e diarréia).

O quadro abaixo mostra exemplos de efeitos tóxicos dos quimioterápicos, conforme a época em que se manifestam após a aplicação.

Precoces*
(de 0 a 3 dias)
Imediatos
(de 7 a 21 dias)
Tardios
(meses)
Ultra-Tardios
(meses ou anos)
• Náuseas
• Vômitos
• Mal estar
• Artralgias
•Exantemas
• Mielossupressão, plaquetopenia anemia
• Mucosites
• Imunossupressão
• Potencialização dos efeitos das radiações
• Miocardiopatia
•Hiperpigmentação e esclerodermia
• Alopecia
• Pneumonite
•Imunossupressão
• Neurotoxidade
• Nefrotoxidade
• Infertilidade
•Carcinogênese
• Mutagênese
• Distúrbio do crescimento em crianças
• Seqüelas no sistema nervoso central
•Fibrose/cirrose hepática

* Síndrome da toxicidade precoce (Delgado 1983)

Com base na descrição feita acima sobre os efeitos da quimioterapia na Medicina Ocidental, será feito um paralelo na Medicina Chinesa, com base nos órgãos e tecidos afetados por tal tratamento, de acordo com sua evolução nos 5 Elementos:

1.Efeitos Precoces: Estagnação do Qi do Estômago – Deficiência do Yin do Estômago:

Os primeiros sintomas que o paciente em quimioterapia desenvolve são relacionados ao sistema digestório, como náuseas e vômitos. Isso acontece, pois os quimioterápicos atingem a mucosa do estômago e tornam o meio mais ácido do que o habitual. Para medicina chinesa, a primeira reação do estômago é a Estagnação da Energia, pois com o meio ácido, a digestão se torna prejudicada e os alimentos ficam “estacionados”em seu interior.

São sintomas da Estagnação do Qi do Estômago: náuseas, vômitos, gases, sensação de estufamento, cólicas abdominais.

É necessário que o terapeuta acupunturista mova a energia parada, e para tal, sugiro os seguintes pontos: VC12, VC15, E21, E25, E36, E41.

Ao longo dos dias, se a Estagnação do Qi não for solucionada, em curto prazo, o Estômago por falta de energia, perde a capacidade de produzir fluídos Yin, com isso, além dos sintomas citados acima, o paciente irá sofrer com sintomas de calor, como febre, queimação de estômago, refluxo, sede intensa, bem como com sintomas de ressecamento, como o ressecamento das mucosas, diminuição das lágrimas, suor e demais secreções corpóreas.

É necessário então, que o acupunturista tonifique o Yin do Estômago, restabelecendo assim a produção de fluídos. Para esta situação, sugiro os pontos: E36, R6, BP6, E41, E44, B21.

Com o passar o tratamento, e por razão da quimioterapia não atingir somente as células de câncer, mas também células de órgãos saudáveis, a diminuição do funcionamento do Estômago irá gerar uma fraqueza no Baço-Pâncreas (lembrem-se, que na sequência da produção de energia, o Estômago passa energia para o Baço. Quando há deficiência do Qi do Estômago, menos energia será transferida para o Baço, que assim, começa a falhar em suas funções).

2. Efeitos Imediatos: Deficiência do Qi do Baço-Pâncreas – Deficiência do Sangue do Baço:

Para Medicina Tradicional Chinesa, o Baço-Pâncreas, por ser a base da produção da energia do corpo (junto com o Pulmão), tem relação direta com a Imunidade do paciente. Quando temos a Deficiência do Qi do Baço, consequentemente, teremos menos formação do Qi dos alimentos (Gu Qi) que culminará na deficiência da produção do Wei Qi (energia de defesa) pelo Pulmão. Assim, o paciente torna-se imunodeprimido.

É também ao Baço dada a missão de, junto com o Rim, produzir sangue. E nesta fase do tratamento com Quimioterapia, que por falta de energia o Baço não consegue produzir sangue, que o paciente começa a ter mielosupressão (diminuição da produção de células sangúineas pela medula), plaquetopenia (diminuição da produção de plaquetas) e anemia (diminuição da produção de sangue).

Os sintomas do Estômago continuam nessa fase, agregados aos sintomas de um Baço fraco, como: fome sem vontade de comer, diarréia, edemas nas articulações e no baixo abdome, cansaço extremo, lapsos de memória e sintomas associados ao acúmulo de umidade.

Cabe ao acupunturista tonificar o Qi e o Sangue do Baço-Pâncreas, para amenizar os sintomas acima. Sugiro os pontos: BP2, BP3, BP6, BP8, BP9 BP10 e B20.

Na sequência do tratamento com Quimioterapia, o Pulmão será o próximo órgão afetado, e efeitos colaterais do tratamento podem gerar problemas de saúde graves a ponto de comprometer a continuidade do uso de quimioterápicos.

Porém, para que todos possam pensar com profundidade sobre o tema abordado até aqui, farei na próxima terça feira, um texto de continuidade.

Por enquanto, espero que esteja interessante a saga da Quimioterapia pelos 5 elementos.

Um grande abraço à todos.

Profa. Fernanda Mara

OBS: As definições de quimioterapia, descrições e informações sobre a mesma, foram retiradas do Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva